Helder Cardoso

O meu nome é Helder Cardoso e sou natural do concelho do Bombarral. Tenho 36 anos e sou pai de um rapaz de 4. Trabalho como guia de observação de aves em Portugal e Espanha, na empresa Birds & Nature Tours, e desenvolvo projectos na área da sensibilização ambiental.
Uma das minhas primeiras memórias é de estar à procura de rãs nas valas, enquanto os meus pais trabalhavam no campo. Desde que me lembro, que não consigo deixar de ficar fascinado pelas outras criaturas que nos rodeiam. Tendo nascido e crescido numa aldeia, filho de pais agricultores, tive o privilégio de poder conviver com milhares de outras criaturas diariamente.
Uma das minhas primeiras memórias é de estar à procura de rãs nas valas, enquanto os meus pais trabalhavam no campo. Desde que me lembro, que não consigo deixar de ficar fascinado pelas outras criaturas que nos rodeiam. Tendo nascido e crescido numa aldeia, filho de pais agricultores, tive o privilégio de poder conviver com milhares de outras criaturas diariamente.

No primeiro ano do segundo ciclo, na biblioteca da escola, encontrei o fabuloso livro “O Naturalista Amador” do Gerald Durrell. Sorvi cada frase e revi-me no inquisitivo e explorador jovem Durrell na ilha de Corfu. Tinha também um saco de naturalista com frascos e frasquinhos de colecta, criei um aquário de insectos aquáticos, desenhava pintassilgos e registava data, local e condições meteorológicas num pequeno caderno de campo. Recebi, dos meus pais, o meu primeiro guia de campo das aves de Portugal e da Europa por volta dos 11 anos e, logo em seguida, estava a pedir um par de binóculos. De binóculos ao peito e de bicicleta, percorria os campos em redor da minha aldeia. Lembro-me perfeitamente do meu primeiro Papa-moscas-preto (Ficedula hypoleuca), algures num Outono, no início dos anos 90, e de montar um espelho com cabo telescópico para espreitar o interior de um ninho de Peto-verde (Picus sharpei)...
Alguns anos mais tarde, houve uma apresentação sobre o Paul de Tornada na Associação Recreativa da aldeia. No final da sessão, eu e a minha mãe, fomos expor a minha paixão pelas aves e pelo mundo natural. Dali surgiu o convite para visitar o paul, que viria a conhecer intimamente nos anos vindouros. Rapidamente, duas vezes por mês, a minha mãe estava a conduzir-me, às 6h da manhã, em direcção ao Paul de Tornada para eu aprender a anilhar aves. Lembro-me de todas as noites que antecediam a sessão de anilhagem, de sentir borboletas na barriga.
Durante a Universidade, todos os fins-de-semana visitava o Paul, onde ia observar e anilhar aves, abrir os trilhos, numa batalha inglória contra a vegetação luxuriante. Durante alguns anos fiz parte da equipa da Direcção da Associação PATO e fui sócio fundador da Associação Portuguesa de Anilhadores de Aves.
Alguns anos mais tarde, houve uma apresentação sobre o Paul de Tornada na Associação Recreativa da aldeia. No final da sessão, eu e a minha mãe, fomos expor a minha paixão pelas aves e pelo mundo natural. Dali surgiu o convite para visitar o paul, que viria a conhecer intimamente nos anos vindouros. Rapidamente, duas vezes por mês, a minha mãe estava a conduzir-me, às 6h da manhã, em direcção ao Paul de Tornada para eu aprender a anilhar aves. Lembro-me de todas as noites que antecediam a sessão de anilhagem, de sentir borboletas na barriga.
Durante a Universidade, todos os fins-de-semana visitava o Paul, onde ia observar e anilhar aves, abrir os trilhos, numa batalha inglória contra a vegetação luxuriante. Durante alguns anos fiz parte da equipa da Direcção da Associação PATO e fui sócio fundador da Associação Portuguesa de Anilhadores de Aves.

Neste momento, trabalho com aves selvagens, seja a guiar passeios de observação em Portugal ou em Espanha, a fazer estudos de impacto ambiental ou consultadoria. Dedico-me também a estudar outros grupos do mundo natural, como borboletas e libélulas, sempre com o mesmo entusiasmo de quando tinha 11 anos.
As palavras do Tuco no filme “O Bom, o Mau e o Vilão” ecoaram sempre na minha cabeça: “Se trabalhas para viver, porque é que te matas a trabalhar?”. Trabalhar é necessário e, parafraseado no nosso filósofo Agostinho da Silva, deverá ser também onde nos cumprimos, onde somos aquilo que nascemos para ser.
Tenho perfeita consciência que nem sempre é possível fazer da nossa paixão o nosso trabalho, que é necessária alguma sorte, logo a começar na geografia, de se nascer no local certo do mundo. Queria apenas deixar o meu testemunho da importância das referências ao longo da formação de uma criança, do apoio da família (o da minha foi incondicional), dos livros, das ações de divulgação, de todas as pessoas que contagiam com o seu entusiasmo. Funcionou para mim, já que raros são os dias em que não valorize a vida que me rodeia. Afinal de contas, talvez sejamos todos pequenas felosas impulsionados pelo desejo de migrar para um melhor habitat emocional.
As palavras do Tuco no filme “O Bom, o Mau e o Vilão” ecoaram sempre na minha cabeça: “Se trabalhas para viver, porque é que te matas a trabalhar?”. Trabalhar é necessário e, parafraseado no nosso filósofo Agostinho da Silva, deverá ser também onde nos cumprimos, onde somos aquilo que nascemos para ser.
Tenho perfeita consciência que nem sempre é possível fazer da nossa paixão o nosso trabalho, que é necessária alguma sorte, logo a começar na geografia, de se nascer no local certo do mundo. Queria apenas deixar o meu testemunho da importância das referências ao longo da formação de uma criança, do apoio da família (o da minha foi incondicional), dos livros, das ações de divulgação, de todas as pessoas que contagiam com o seu entusiasmo. Funcionou para mim, já que raros são os dias em que não valorize a vida que me rodeia. Afinal de contas, talvez sejamos todos pequenas felosas impulsionados pelo desejo de migrar para um melhor habitat emocional.